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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Bendita cegonha

Imagem daqui.
Vou começar este post esclarecendo umas coisinhas pra quem ainda não me conhece muito bem. Tenho uma anemia chamada HPN, ou Hemoglobinúria Paroxística Noturna. Uma doença rara, cujo maior transtorno é a ocorrência de tromboses. Pra quem quiser conhecer um pouco mais sobre isso, pode acessar esta página da Wikipédia, na versão de 13h18min de 24 de junho de 2011 (ver histórico), que parece bastante correta. Pra resumir bastante o assunto, sou uma pessoa que pode viver uma vida normal, mas que de vez em quando tem que tomar certos cuidados ou não pode fazer certas coisas, como tomar hormônios, por exemplo. Se eu fosse homem, isso não significaria muita coisa (exceção: querer ficar com o corpo do Conan), mas como mulher, essa impossibilidade se traduz em não poder usar anticoncepcionais. E pelo risco do sangramento e da trombose, DIU também está cortado da lista. Sobraram o preservativo e a tabelinha para fazer o planejamento familiar.
Assim funcionou por um bom tempo: 9 anos de namoro e 4 de casamento, tempo depois do qual resolvi "relaxar" um pouco e apareceu a minha linda filhota. Claro que a sua gestação foi cercada de cuidados, como hemogramas frequentes e o uso de anticoagulante (heparina de baixa densidade, injetável) no final da gravidez, quando um hemograma acusou macroplaquetas circulando no meu sangue. Aí os exames passaram a ser semanais, pois a queda de plaquetas foi grande, quando comecei a usar a heparina.
Não posso dizer que minha gravidez foi totalmente tranqüila, pois ficava tensa a cada queda (vertiginosa, diga-se de passagem) das plaquetas. Somando isso ao fato de não ter conseguido um parto normal e ter muito pouco leite (não sei dizer se isso foi devido ao HPN), não passou pela minha cabeça repetir a experiência. Sou filha única e gosto de uma família de 3. Sei dos riscos que corri na gestação, e para completar, meu médico sempre desaconselhou uma nova gravidez. Continuei utilizando o método que funcionou por 13 anos, confiante.
Pois dia desses, uma modificação no meu corpo me atingiu como uma bomba: ele estava abrigando mais uma criança. Como, se fiz tudo como sempre? Preciso dizer que fiquei apavorada? Minha cabeça foi tomada por um furacão. Frases me assombravam: "não engravide", "vai passar por tudo de novo", "é, mãe, você tem pouco leite", "não pode parar de usar o Clexane". Chorei muito quando vi o resultado positivo no teste caseiro, tive diversas noites insones por conta dessa novidade. Pensei até que não poderia continuar a gestação.
Pra completar, demorei a conseguir contato com meu hematologista. Mas quando finalmente conversei com ele, me senti mais aliviada. Vale a pena reproduzir um trechinho da conversa, que aconteceu enquanto almoçava com meu pai, muito desanimada:
 - Dr. Daniel, descobri que estou grávida de novo.
Uma pequena pausa.
 - Uau! - outra pausa - E o que você está pensando em fazer?
 - Bom, o que for melhor pra minha saúde. Já tenho uma filha pra criar. - disse, muito tensa.
 - Olha, você não precisa tomar nenhuma atitude extrema, mas sabe que deve ter uma série de cuidados... Quero ver você o quanto antes e vou querer que use o Clexane desde agora.
Pronto. Já bastou pra eu ficar feliz e ter apetite novamente. Devorei meu almoço e ainda pedi sobremesa.
Ainda não fui vê-lo, meu primeiro pré-natal foi aos trancos e barrancos, mas a cada dia me sinto um pouco melhor. De vez em quando ainda me bate uma insegurança, um pouco de incerteza quanto ao futuro: não me preparei para uma família de 4; sou filha única, às vezes me sinto incapaz de educar irmãos. Lembro do preço do remédio que tenho de tomar e sinto arrepios. Mas Deus sabe o que faz. Acho que um irmão fará muito bem à minha filhota. E pra falar a verdade, por que é que eu nunca liguei as trompas, se eu realmente não queria engravidar de novo? É, bendita seja essa cegonha... Tomou por mim uma atitude que eu jamais tomaria.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

(B)Log de viagem - direto do túnel do tempo!

Post atrasadíssimo, esse. Deveria ser da semana passada.
Lembra que no post anterior eu não sabia mais onde estavam as lojas uruguaias que marcaram minha infância e adolescência? Pois bem: num novo passeio com a minha mãe, encontrei a loja da Manuela exatamente como sempre foi (bom, na verdade, com área um pouquinho reduzida): apinhada de casacos, blusões, sapatos, ceroulas, meias de pura lã uruguaia, misturadas com roupas de verão, camisolas e outros artigos que somente na loja dela poderiam combinar. Foi uma alegria também encontrar a própria Manuela comandando tudo com seu mesmo jeitão, usando seus mil argumentos para convencer que o artigo que estava em suas mãos era o mais adequado para a ocasião, que o preço era o mais em conta, etc. E parece que não envelheceu nada, nos últimos 15 anos que não a vi. Sim, porque da ultima vez que estive em Jaguarão, não passei em sua loja. Como deve fazer uns 10 anos que não visito a cidade... Bom, chega de contas. O fato é que ela estava ali, igual a sempre, com a mesma vitalidade, inclusive.
Tive ainda a felicidade de encontrar com uma de minhas primas em uma das lojas de Free Shop de Rio Branco. Estava olhando as câmeras fotográficas (agora descobri que o que pra mim é uma DLSR, pros lojistas é uma reflex) e num desses momentos que a gente desvia o olhar, a encontrei no mesmo balcão, a poucos metros de mim. Tive de olhar umas duas vezes até acreditar! Nossa, eu não podia estar mais contente! Conversamos bastante, trocamos muitos abraços e combinamos um novo encontro, com mais primas inclusive. Não levei a câmera, mas guardei no coração um momento muito especial, que só lá poderia registrar.
Pra completar, meus pais também encontraram amigos que marcaram suas juventudes, e ao que parece, isso serviu para animá-los. É, minha castigada Jaguarão: os teus encantos estão escondidos em cada esquina...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

(B)Log de viagem! - (re)conhecendo Jaguarão

Anteontem, tivemos um "pot pourri" das atracões da região. As melhores se situavam do lado de lá da ponte Mauá. Primeiro, fomos aos tais Free Shops de Rio Branco. Pra mim, que conheci uma Rio Branco pequena e tímida, com um comércio interessante, mas basicamente de produtos locais, foi um susto ver como cresceram as então pequenas lojas da Neutral, do Mario e outras. Cadê, por exemplo, a loja da Manuela, que vendia couros? Deve ter se transformado em um daqueles gigantes. Em outros tempos, eu me perdia por entre suas araras repletas de artigos em lã e couro, procurando por roupas de inverno que só encontraria ali. O sobretudo que usei na minha primeira viagem à Europa saiu de suas prateleiras. Também não conseguia lembrar mais em que loja comprava os queijos de colônia e um outro molenga, que se derretia no balcão, excelente para sanduíches. Tudo que via agora era a pujança de um comércio de importados, muitos finíssimos, e outros nem tanto. Lembro-me que para comprar perfumes importados de boa qualidade no Uruguai, havia uma farmácia na Coxilha, que tinha de tudo um pouco. Deve ter se transformado agora numa dessas grandes lojas depois da ponte.
De qualquer forma, fui arrebatada pelos estabelecimentos espaçosos e sortidos (apesar de ainda não ter encontrado a câmera DLSR que desejo), onde trabalhadores brasileiros e uruguaios se mesclam para atender o público cada vez maior. Numa quarta-feira as lojas já ferviam, imagino como deva ser o fim-de-semana! Ou talvez seja melhor nem imaginar... À tarde, depois de almoçar com minha família em um restaurante no Brasil (com donos muito simpáticos), um pouco de descanso e uma nova visita ao Uruguai, desta vez para apresentar à minha filha a Lagoa Mirim.
Antes, uma parada estratégica numa das melhores padarias de Rio Branco, pra minha mãe comprar os quitutes da viagem. Sim, viagem, pois a lagoa fica longe dos centros urbanos. Algo como 20 minutos de estrada, passando por fazendas de ovelhas, de gado de corte e plantações de arroz, muitas plantações de arroz.
Cansada, minha boneca dormiu no caminho, e foi acordada pelo vovô quando já estávamos estacionados em frente à praia. Isso mesmo, praia com areia e tudo, até mesmo com gaivotas, moluscos e umas marolinhas formadas pelo intenso vento que está sempre marcando sua presença. As diferenças entre uma praia de lagoa e uma de mar são basicamente a cor da água, o gosto e o fato de você às vezes poder enxergar o lado de lá. De resto, tudo igual: as casas de veraneio, o comércio de temporada... Ah, sim há mais uma diferença básica: quando o nível da água baixa na lagoa, não é só por fatores naturais, mas porque estão retirando água para as plantações.
O nível da Lagoa Mirim está baixo, este ano, o que não atrapalhou a diversão de minha filha. Uma criança fresca talvez não topasse muito pisar na areia quase lodosa que se apresentava diante de nós, por causa do nível baixo. Mas ela não se intimidou nem um pouco e avançou água adentro, onde conheceu duas meninas uruguaias muito simpáticas. Num instante ficaram amigas, e minha filha já trocava o "sim" pelo "si", arranhando o melhor "portunhol" que podia, para uma menina de 5 anos. Juntou-se à brincadeira um brasileirinho com uma prancha de windsurf sem a vela, o que garantiu diversão por muito tempo. Foi difícil tirá-la de lá, mas era preciso, pois seu bisavô já estava muito cansado e precisava voltar pra casa. Ontem foi o dia da procissão fluvial de Nossa Senhora dos Navegantes. Estava chovendo fininho, as festividades se desenrolaram com muita simplicidade. Registrei o evento com uma foto do barco mais decorado.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

(B)Log de viagem! Cruzando o Rio Grande do Sul

Ontem, na estrada, achei bem agradável perceber a mudança de cenário, indicando os outros costumes, a economia diferente. Parecia que o Rio Grande do Sul se dividia em dois: um pré-Porto Alegre e um pós-Porto Alegre.
À medida que nos afastávamos de Serafina Corrêa, os campos de milho e soja iam dando lugar a fábricas, as pequenas casas isoladas a assentamentos do MST e acampamentos indígenas. Chegando bem perto da cidade, podia-se ver as usinas de reciclagem e os prédios crescendo, em proximidades e andares.
Uma agradável pausa para o almoço na Casa das Cucas me fez pensar no apego do gaúcho às suas tradições. Um cartaz no banheiro feminino pede às clientes que não lavem suas cuias na pia... Quantas cuias a serem lavadas na beira da estrada, a ponto de entupir a extensa fileira de lavatórios daquele banheiro!
Ao nos afastarmos, esse cenário de cidade grande foi dando lugar a uma paisagem bucólica, novamente, mas com características diferentes:  o milho e a soja foram rareando, e começaram a aparecer pastagens, gado, arroz, silos... As casas do campo, que anteriormente eram de madeira, passaram a ser de alvenaria. As cidadezinhas com entradas floridas foram substituídas por outras mais austeras, até um pouco castigadas pelo tempo e por pessoas não muito interessadas em preservar as belezas de onde mora.
Uma dessas entradas é justamente a de Jaguarão. Um belo projeto inspirado na Ponte Mauá, mas com todas suas janelas quebradas, pedaços de madeira tapando alguns vãos e nenhuma florzinha pra dar cor ao conjunto... Mas vamos em frente! A Cidade Heróica ainda resiste aos maus tratos que tem sido submetida. Torço para que o recente tombamento do IPHAN abra os olhos de seus moradores e visitantes.
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