Quando era pequena, ouvia a pergunta: o que você quer ser quando crescer? E eu respondia: bailarina, professora, estilista. Sempre alguma coisa que não envolvia cuidar da casa, dos filhos, da família.
Meu marido diz que as mulheres da minha geração foram criadas para serem homens de saia. De início, ficava irritada, mas... Quer saber? Com o tempo, fui vendo que ele tem razão.
Minha mãe dedicou e ainda dedica sua vida ao lar. E não é tarefa fácil. Pela manhã, enquanto minha filhinha está na escola, ela faz compras no mercado ou na feira, prepara o almoço e arruma alguma coisa em casa antes da hora de buscar minha filha na escola.
Fiquei fazendo isso por dois anos e sei o quanto já se está cansada logo pela manhã.
Depois de almoçar e garantir que a pequena está alimentada, é hora de cuidar de sua higiene e colocá-la na cama. No caso da minha filha, isso é uma luta, já que ela não gosta de dormir.
Quero dizer, não gosta de começar a dormir. Uma vez que ela pega no sono, fazê-la acordar no horário passa a ser uma missão ainda mais difícil que fazê-la dormir. E ela tem atividades à tarde, que duram só meia hora, então, quando chega atrasada, perde quase tudo.
E eu? Bom, dou uma mamadeira (Xiii, confessei!) para minha filha, enquanto ela ainda está meio dormindo, meio acordada, me visto, tomo meu café da manhã, visto a baixinha e pego um táxi para levá-la à escola. Acabou minha manhã como mãe. Aí, vou passar um dia inteiro dedicada a relatórios, projetos, tratamento de imagens, maquetes eletrônicas, reuniões... Enfim, "vida de homem".
Só vou ver minha filha de novo à noite, minha mãe já está exaurida pelas exigências de cuidar de uma criança pequena e cheia de atividades.
Às vezes, consigo dar banho nela. Normalmente, isso acontece nos dias de natação, pois a coloquei de propósito em um horário que coincidia com minha saída do trabalho. Quase sempre, sirvo seu jantar, já preparado pela minha santa mãe. Que seria de mim sem ela?
Já contei que além de passar toda a tarde com minha filha, é ela quem nos deixa de volta em casa, de carro? Pois é. Minha consciência pesa. Tenho pedido para voltar mais cedo para casa, inclusive, numa tentativa de conviver um pouco mais com minha filha, deixando minha mãe com mais algumas horinhas de liberdade.
No trajeto, fico contabilizando as horas que gasto no trabalho, as horas que fico com a minha filha e as horas que minha mãe fica com ela. Fico aliviada por constatar que, contando o fim-de-semana, passo três (!) horas a mais com ela do que minha mãe, de acordo com minha planilha mental. Mas logo me entristece saber que passo mais tempo no trabalho que com o meu tesouro.
Não tenho dúvidas de que minha filha é a pessoa que mais amo na vida. Mas tenho que confessar: quando voltei ao mercado de trabalho, retomei também uma série de atividades que há dois anos estavam esquecidas, como a ginástica, massagem, almoços em restaurantes do Centro... Fora o convívio com adultos, que por um bom tempo (e um bom motivo) tinha sido abandonado. Voltar a trabalhar enriqueceu minha vida pessoal. Está sendo bom para mim... E nem falei do dinheiro na conta!
Minha mãe fica orgulhosa de me ver progredindo e quando penso em ficar em casa, me incentiva a trabalhar. Entre louças e roupas por lavar, trajetos de carro e barriga no fogão, me encoraja: "você estudou tanto... Qualquer dia, sua filha não vai mais precisar de você por perto e vai querer mais é que você fique no trabalho." E volta a desempenhar mais uma de suas intermináveis tarefas, antes de nos levar para casa e voltar sozinha.
Então abro a porta de casa, ligo a TV para a minha filha. Vou para a cozinha esquentar o jantar já pronto. Comemos juntas, assistindo seus desenhos favoritos. Brincamos um pouco e a ponho para dormir. Sozinha, vou cuidar da minha rotina de beleza. Aí eu me olho no espelho, paro e penso no dia que tivemos: mas afinal, qual é a mãe que mais trabalha, mesmo?
Ufa! Cansei só de ler... Me lembro tanto de sua mãe, Si! Bem, essa rotina não deve ser nada fácil, e nunca tinha pensado na forma que seu marido fala que a nossa geração foi criada... Faz sentido!
ResponderExcluirAdorei o texto! ;)
Beijo, beijoooo!
Minha mãe é inesquecível! É, Sheila, a rotina é dura mas é também meio que uma escolha: eu poderia, se quisesse, optar por não trabalhar. Mas... E todo o resto que estaria perdendo? Num mundo ideal, eu ficaria 6 horas no trabalho e o resto do tempo disponível, com a minha filhota.
ResponderExcluirQue bom que vc gostou do texto! Fica ainda mais especial por vc ser escritora e amiga, mesmo que à distância.