Dez horas da noite.
Precisava baixar um documento que estava no meu email. Ligo o computador, abro o browser e... Nada. Não
tenho conexão com a Internet, mais uma vez.
Ligo para o
teleatendimento, na esperança de resolver rapidamente, pois preciso dormir o
quanto antes. Um homem virtual me atende, fingindo ser uma pessoa de carne e
osso. Depois de uma série de procedimentos (disque 1 se... Disque 2 se...) a
voz gravada diz que me entende, e informa que eu deveria tentar desligar e
religar o modem antes de ser atendida por uma pessoa real. Típico de TI...
Tudo bem, eu desligo e
ligo o tal modem novamente e continuo sem sinal. Hora de falar com o moço
virtual. Desta vez ele estava um pouco indiferente comigo, pois no primeiro
telefonema ele reconheceu meu telefone e disse que já tinha encontrado meu
código de assinante. Agora, não sei se por vingança, já que eu tinha ligado
para perturbá-lo há menos de 15 minutos, resolveu me mandar digitar aquele
número de uns 50 algarismos. O moço virtual disse novamente que me entendia (que
reconfortante...) e como se não lembrasse de nada que lhe digitei antes, pediu
que eu fizesse todo o procedimento de novo. A única coisa que mudou foi o fato
de eu já ter ligado e desligado o modem. Aí ele pediu para que eu esperasse
pela pessoa de verdade que iria me atender caso eu discasse o 2. Pois bem,
disquei o 2 e fiquei esperando... esperando... esperando... e ouvido o moço
virtual falar lá no fundo sobre as vantagens de assinar os serviços que eu
assino.
Uns 6 minutos depois
(pareceram uns 15), me atendeu o moço de carne e osso, com um sotaque
inconfundivelmente gaúcho:
- Boa noitee, com quem eu falooo?
- Boa noite, você fala com Sigried.
- Comooo? – Meu nome sempre causa essa reação.
- Siigrieed!
- Pois não senhoora, como posso ajudar?
- Estou sem sinal de Internet.
- Ah, sim, um momentoo... Percebo que a
senhora está com o plano de 3 mega, confirma?
- Sim.
- Pois temos uma excelente proposta para você,
deixe-me verificar alguns dados...
- Moço, podemos ver isso mais tarde? Estou sem
sinal, queria tanto resolver o “feijão com arroz”, primeiro...
- Todos querem resolver o “feijão com arroz”,
senhora... Um momento que vou tratar dos dois assuntos ao mesmo tempo.
Pode imaginar como me
senti com essa resposta? Fiquei calada do outro lado da linha, para evitar
ofensas ao meu conterrâneo.
- Senhora, ainda está na linha?
Fiquei imaginando por
que ele pergunta meu nome duas vezes, se não vai conseguir repetir, mesmo.
Juntando um pouco de calma que me restava, respondi:
- Sim.
- Que bom, porque pensei que a ligação tinha
caído. É muito ruim quando a ligação cai...
Me controlava para não
desligar o telefone.
- Pronto, senhora, agora sua conexão é de 10
mega e com uma taxa menor. Vamos então descobrir por que a senhora está sem
sinal. – Eu sabia que ele não ia resolver dois assuntos de uma vez!
- Olha, sei que na minha região há um problema
recorrente, pode ser isso. – Eu também peço para me aborrecer. Falo demais...
- Infelizmente, daqui, não tenho como resolver
o problema...
- Claro, o que poderia
fazer para resolver algo aqui no Rio, se está no Rio Grande do Sul? – minha grande
boca...
- Nooossaaaa, como a senhora descobriiuuoo?
Deve ser o meu sotaqueee.
- Imagina, só vi que estavas vestido de
bombacha, aí... – pensei, mas não falei. Devia ter falado! Limitei-me a dizer -
É!
- Senhora, realmente o problema é na sua
região. Os técnicos já estão no local e a previsão de reestabelecimento da
conexão é às 23:30.
- Mas estamos sem Internet desde de manhã! É
muito tempo, muito tarde!
- Ah, mas amanhã pela manhã, quando a senhora
acessar, estará navegando com 10 mega! Se a senhora tivesse acesso, daqui a uma
hora, já estaria com uma conexão mais rápida...
- Se amanhã eu tiver a conexão... Se fossem
descontar todos os dias que fico sem acesso à Internet, acho que vocês já
estariam me pagando pelo serviço... Por favor, registre minha reclamação.
- Claro, senhora! Posso lhe ajudar em mais
alguma coisa?
- Pode! Dá pra me explicar como é que eu faço
pra ter o serviço pelo qual eu pago, que é muito caro e não consigo usar? Pensei,
também, mas disse - Não, obrigada. É só.
- Obrigado pela sua ligação, tenha uma boa
noite!
- Boa noite.
E fui dormir, sem
saber se sentia mais raiva do moço virtual ou do gaúcho real.
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