Sabe quando vamos levar um parente ou um amigo querido à rodoviária ou ao aeroporto? A gente fica puxando conversa só pra não ficar em silêncio, vai dando um certo nervosismo à medida que se aproxima a hora de entrar no ônibus ou avião. Aí, começamos a fazer algumas recomendações do tipo: se o ônibus parar em tal posto, aproveite pra provar aquele salgado que eles fazem... É o melhor da estrada; ou ainda, quando chegar no aeroporto, não vá alugar carro naquela empresa, prefira a outra, naquele balcãozinho mais atrás. E quando a pessoa vai ficar muito tempo fora, então? A voz embarga na hora da despedida e às vezes a gente até chora, mesmo sabendo a data da volta.
Ontem, meu sogro fez sua última viagem, e pegamos estrada para dar adeus. Fomos até a cidade onde mora a família dele, para o enterro.
Lá estava ele, deitadinho, sereno, esperando a hora de embarcar. Na capela do cemitério, muita gente que o conheceu já maduro, na juventude e na infância. É curioso como nessas horas acaba se conhecendo tantas facetas diferentes da mesma pessoa: cada um tem uma historinha pra contar, e a gente fica montando esse enorme quebra-cabeças que é um indivíduo. Como disse Exupéry, em "Terra dos Homens": "na morte de um homem um mundo desconhecido está morrendo".
À medida que o ritual vai se desenrolando, a gente vai se dando conta de que aquela pessoa está indo, e o reencontro não está marcado. Para uns, ele nunca irá se realizar. Para outros, a espera será longa e não se tem certeza do lugar. O que fica é a saudade e a vontade de adiar um pouco mais a despedida. Mesmo que os últimos dias tenham sido tão difíceis.
A gente fica triste, mas se deve reconhecer que a morte é um grande alívio para o sofrimento de todos. O fardo ficava pesado demais, tanto para ele quanto para nós.
Agora, depois dessa viagem sem valises, consigo imaginá-lo em paz, leve, sem as amarras que o prendiam em vida.
Dia desses a gente se encontra. Espero, claro, que não seja em breve, pois ainda tenho um bocado de coisas a fazer antes de viajar pro mesmo lugar...
Para os que ficam, um conselho: usem e abusem do filtro solar, e controlem sua exposição ao sol, pois o câncer de pele é uma coisa muito séria.
Beijos no coração de todos.
Oi Si! Em primeiro lugar sinto muito por seu sogro. Que hora difícil essa! É a única certeza da vida e ao mesmo tempo a mais difícil... Seu texto está lindo, apesar do momento ser triste, está sereno, com dor, mais sereno e real, não tem jeito, se não formos antes, iremos enterrá-los, né?! Essa certeza não nos faz preparados, mas é a Lei natural da vida. Gostei demais da comparação que você fez quando vamos nos despedir de um ente querido em sua viagem, a que é apenas de troca de cidade, estado ou país... Para depois você falar da viagem eterna... Ficou tão bom o seu texto... Que bom que mesmo neste momento tão difícil você conseguiu expressar em palavras, sabe Si, eu acredito que quando escrevemos as nossas dores, o que é mais uma forma de escrita, desabafamos, transformamos a nossa dor "egoísta" em coletiva... Tudo que eu escrevo é em primeiro lugar para mim e depois fico feliz quando lembram de meus textos e de alguma forma eles fazem bem, ou traz lembrança para vocês. Obrigada por me procurar e contar. Escreva mesmo, sempre que sentir vontade, mal nunca faz e sempre nos traz alívio... Fiquem bem! Beijo, beijo em seu coração!
ResponderExcluirSheila
PS: Queria seguir o seu Blog, mas não acho como... :(